DESOCUPA! é o grito dos indignados em Salvador – Josias Pires

A cidade está doente, há uma doença da Pólis, lembra Marcio Meirelles. O grito dos indignados zoando nas praças da Tunísia, do Egito e de outros países árabes e no Ocupe Wall Street, nos EUA, tornou-se a forma de manifestação contemporânea que melhor catalisa o sentimento da juventude e de outros segmentos, articulados pelas redes sociais. Ação política organizada por fora dos partidos, apesar de ser inegável que sujeitos partidarizados também participem dele, afinal é todo marcado pela diversidade.

O Movimento DESOCUPA nasce em Salvador pulverizado em diferentes grupos nas redes sociais e por iniciativas diversas. As pautas são variadas, porém, convergem para a defesa da cidade e pela desocupação privada dos espaços públicos. Daí nasce o Desocupa Ondina fazendo todos os grupos e centenas de indivíduos a convergirem para a realização da manifestação na praça ocupada pelo camarote.

Mas o que acendeu a chama dos indignados foi a decisão do camarote e da juíza Maria Lisbete de intimidarem a jornalista Nadja Vladi e, por extensão, o movimento. Este fato gerou imediata revolta, calando fundo no sentimento dos indignados. Chama acesa, entramos agora num processo de mobilização social em favor da cidade que, certamente, atravessará o ano eleitoral e terá desdobramentos na próxima gestão municipal. Leia o Manifesto do Movimento Vozes de Salvador em defesa da cidade, que sintetiza em poucas linhas o quadro dramático, muitas vezes trágico, que vivemos:

“O MOVIMENTO VOZES DE SALVADOR vem a público denunciar a agressão criminosa de que a cidade foi vítima, atingida por sucessivos desmandos da administração iníqua e deletéria do Sr. João Henrique Barradas Carneiro, cujos despautérios, seguidos e crescentes, culminaram na sanção de uma lei municipal que desrespeita leis federais e a própria Constituição Brasileira, configurando um verdadeiro golpe contra a democracia e o estado de direito.

É de conhecimento geral que Salvador foi reduzida a uma situação de descalabro por essa administração irresponsável, bisonha, divorciada do interesse público, complacente com a ganância imobiliária, hostil ao povo.

São muitos os motivos para protesto: a degradação da orla, a devastação ambiental, a privatização descarada de espaços públicos, o colapso da mobilidade urbana com o estrangulamento crescente do trânsito, as roubalheiras do metrô e da transcom (entre outras rapinagens), a desmoralização do planejamento urbano, a sujeira, as ruas esburacadas, o aumento infrene da violência e da segregação, da miséria e do turismo sexual, a precariedade dos serviços públicos de atendimento ao cidadão em todas as áreas básicas (com destaque para o péssimo funcionamento dos postos de saúde e das escolas municipais), os acordos subterrâneos com a máfia dos transportes e a máfia do lixo, o colapso financeiro do município, a falta de transparência em todos os planos da gestão, principalmente no tratamento das verbas e contas públicas, o agravamento da das condições negativas que deterioram a qualidade de vida da população nas áreas da periferia e do miolo, o vilipêndio da cultura com o injurioso tratamento dispensado ao patrimônio histórico e artístico da cidade, o desrespeito sistemático aos artistas e produtores independentes, a mercantilização e grosseira deformação do carnaval baiano, das festas e tradições populares da urbe, o desfiguramento sistemático da paisagem soteropolitana por descaso do gestor e por sua conivência com os interesses espúrios de quem a compromete e depreda.

Já é muito, sem dúvida; todavia, um patamar ainda mais grave foi atingido com a açodada proposição e votação de uma LOUOS em período exíguo, sem possibilidade de análise pelos edis, sem verdadeira consulta pública, reduzida a uma farsa, e com desacato a interdito judicial, alterando brutalmente o Plano Diretor do Desenvolvimento Urbano que deveria apenas regulamentar, mutilando o Conselho da Cidade antes de o ter instalado e assim fazendo violência à lei federal, à democracia participativa que a Constituição preconiza e ao interesse público.

No bojo dessa legislação insana, sacrifica-se à ganância imobiliária a última grande reserva de mata atlântica de Salvador, o Vale Encantado, que inclui área sagrada para as religiões de matriz africana; além disso, aumenta-se estupidamente o gabarito das edificações da orla, de forma tal que promove o sombreamento das praias e reduz de forma criminosa a aeração da cidade, entre outras aberrações.

O MOVIMENTO VOZES DE SALVADOR conclama todos os cidadãos a lutar pelos seus direitos ameaçados, opondo-se a essa onda de violência que se volta contra a capital da Bahia e atinge de maneira brutal nossas leis maiores.”

Publicado originalmente no blog BAHIA NA REDE

2 respostas em “DESOCUPA! é o grito dos indignados em Salvador – Josias Pires

  1. Discordo em dizer a cidade está doente, deveriamos dizer que as pessoas que vivem está cidade estão doentes, claro não são todos mais uma grande maioria. É só olhar pra qualqyer lado e vemos pessoas cometendo os maiores absurdo com nossa cidade. Uns jogam lixo pelas ruas, outros destroem a cidade, outros cometem infrações de trânsito, outros ligam sons nas alturas e por ai se vai.
    Não quero dizer que o prefeito é um santo, está certo, porém, poderiamos ter o melhor prefeito do mundo e não teriamos uma cidade diferente com o povo que temos. O próprio movimento quando faz suas manifestações é o primeiro a desrespeitar o direito dos demais, causando engarrafamentos, sujando a praça municipal, cometendo certas agressões verbais contra policiais militares. É por isso que queremos ou queremos melhorar a nossa cidade. Esse movimento se tornou político partidário e por isso deixei de participar quando vereadores de oposição a prefeitura e futuros candidatos querendo aparecer. Posso até voltar a participar, mais só será quando for um movimento pacífico, sem radicais e pelo bem estar da nossa cidade, criticando quando tiver que criticar e também elogiando quando tiver que elogiar. A população de Salvador precisa aprender a cuidar mais da sua cidade, não invadindo e ocupando areas públicas, não destruíndo o patrimônio público, não sujando a cidade e etc. Sim é preciso criar um movimento também chamado desocupa Bahia para esse governo da mentira e enganação do PT. Vamos em frente.

  2. Há três mudei-me para Salvador em busca de qualidade vida a um custo mais baixo. Não é preciso dizer que quebrei a cara… Descobri uma cidade abandonada, mal-tratada, pilhada em seus recursos mais preciosos: a cultura, a natureza e seu povo. É impressionante como aqui as elites só pensam em arrancar dos pobres o que lhes restam oferecendo o que em qualquer parte do planeta seria um direito natural _ o direito a vida e a liberdade. Aqui, se você é preto e pobre, trate de se lenhar, porque não vai ter outra chance senão bater tambor para os brancos cantarem, servir na bandeja o que os ricos querem, ou limpar a sujeira que os poderosos fazem. Nunca vi tamanho absurdo, quando fui a um shopping e perceber que, descaradamente discreto ou discretamente descarado, os pretos e pobres circulavam no piso térreo, enquanto os brancos abastados se isolavam no piso superior. Mais indignado ainda fiquei quando percebi que as praias das cidade eram reservadas a quem não tinha grana para chegar mais longe, nas chamadas praias do Flamengo, onde a classe média se refresca, e mais longe ainda de onde a classe AAA se esconde… em Morro, Guarajuba ou Forte. E exatamente por isso as praias da cidade podiam ficar a mercê das inúmeras línguas negras que empestiam de fezes as águas trépidas que banham um dos litorais mais lindos que já vi em minha vida. O trânsito é caótico, mais por uma engenharia de tráfego irracional e pelo completo colapso no transporte coletivo. Os bairros da cidade inteira se desmancham em deslisamento nos meses de chuva, sem que as autoridades se importem, porque afinal, basta colocar um idiota em cima de um trio elétrico tocando alguma coisa ainda mais idiota que o povo sobrevivente logo se esquece, sem se abalar com um futuro incerto de uma cidade que treme de pavor no esquecimento e nas bizarrices. Passarelas que levam ninguém a lugar algum, vias abertas sem qualquer planejamento de conjunto, reservas naturais desaparecendo sem qualquer constragimento, escolas apodrecidas, hospitais pestilentos, segurança nécia, cultura emburrecida… Salvador está de joelhos, e em prantos pede socorro sem que ninguém se importe. É como se a população achasse isso tudo muito natural, afinal 3/5 dos que moram aqui são de fora e não espelham qualquer paixão por sua história ou geografia. Todos são baianos, mas quase ninguém é soteropolitano. Como cariocas e paulistanos, amam suas cidades, além das terras que os circundam, os soteropolitanos são exilados em suas próprias fronteiras, invadidos de interioranos que no primeiro sinal de ócio correm para a roça, por que é lá de onde vêem e é com lá que se identificam. Os estrangeiros? Bom, esses buscam correndo o aeroporto em busca da vida cultural de suas terras, cujos sinais passam ao largo da península de todos os santos. A terceira cidade do Brasil, em número de habitantes, não conta com galerias de exposições, espaços de exibição de massa, cinemas, teatros ou museus a sua altura. O que há é concentrado, precário e absurdamente caro. Os eventos populares entregues aos escroques locais que fazem fortunas vendendo espaços para 3 horas de show, que excedem um pacote de cinco dias em Nova Iorque _ um delírio completo!!! Nem nos romances de Jorge Amado um cenário mais grotesco.

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